Sempre andei de bicicleta, desde os seis anos e costumo incluir a bike em diversos momentos de minha vida, seja em viagens, em algumas aventuras ou até no dia a dia para ir trabalhar ou resolver pequenos problemas, além de manter o corpo em atividade, andar de bicicleta para mim, é primordial para manter a mente sã, meus maiores momentos de reflexão estão em cima de uma bicicleta, sem música, sem ninguém do lado, somente pedalando e conversando comigo mesmo.
Nesses dias, decidi fazer um pedal mais longo e pude refletir o quanto andar de bicicleta é igual a empreender.
Poderia dizer que é porque quando aprende nunca se esquece, mas não é por isso. Nem porque a sensação de sentir o vento no rosto é tão boa quanto o desafio de empreender, também não é por isso, ou pelo menos, não somente por isso.
Entendi que empreender é igual a andar de bicicleta porque tem alguns pontos muito interessantes em comum:
✔ É cheio de altos e baixos – Empreender nunca é uma linha suave, existem diversos grandes desafios pelo caminho, como subidas que parecem intermináveis. Tocar o seu negócio em alguns momentos é tão desafiador quanto aquela última e mais forte subida no final de seu longo pedal, onde você acredita não ter mais forças para chegar lá em cima, mas não tem opção ou você pedala ou não vai chegar a lugar nenhum.
✔ A subida mais íngreme é sempre a que está depois da curva – Costumo dizer isso como um mantra interno, pois quando estamos pedalando em uma subida íngreme, sempre achamos que depois da curva vai passar, que acaba ou pelo menos vai ficar mais fácil, mas depois da curva, normalmente vem sempre um pouco mais de subida, ou pior, a curva é um hairpin de uma serra e a subida fica ainda mais inclinada.
Na vida de um empreendedor é assim também, achamos que aquele momento difícil é o último e, é somente aquilo que estamos vendo, mas sempre tem mais um pouco e sempre temos que ter mais um pouco de energia para tocar em frente, como a pior subida é a que está depois da curva, o pior problema é aquele que ainda não estamos vendo, que não está aparente, pois ainda não nos preparamos e ainda não separamos as ferramentas corretas para supera-lo ou, ainda não temos a equipe adequada para resolve-lo, mas com certeza, assim que ele aparecer, vamos pensar, beber mais um pouco de água e seguir em frente, superando e seguindo para o próximo.
✔ Cada roteiro tem um ponto de partida e de chegada – Pelo menos imaginamos que sim, cada missão nossa na empresa tem um ponto de partida e uma meta, é o nosso planejamento, nosso orçamento, budget, ou qualquer outra ferramenta similar, nem sempre o caminho está tão aparente, a maioria das vezes não é fácil e assim como em um passeio de bike, às vezes achamos outros atrativos que nos fazem desviar da rota inicial ou aquela rota inicial está interditada e temos que tomar outro rumo, ou pivotar, como está na moda agora, mas com o nosso objetivo em mente, o que queremos atingir continua claro e vamos seguir em frente para chegar lá.
✔ Tem terreno de terra, lama, asfalto e areia – Os caminhos que percorremos são variados e temos que estar preparados, podemos até não ter uma bicicleta para cada terreno, ou equipe para cada desafio, mas devemos ter grande diversidade em nossas equipes para podermos percorrer caminhos diferentes e ter grande desempenho nos que nos adaptarmos melhor e pelo menos passar (sem ficar atolado) nos caminhos mais difíceis.
✔ Temos grande retas e planos – Nossa rota empreendedora não é feita somente de desafios, subidas e terrenos difíceis, muitas vezes e quem sabe (ainda bem) a maioria das vezes, os terrenos são planos e retos, sem grande surpresas e sem desafios, costumamos chamar isso de rotina, de normalidade, de dentro das metas ou coisas parecidas, felizmente uma grande parte de nossas atividades são previsíveis e de relativa facilidade de alcance, mas temos que lembrar que para ir além, buscar novos desafios e locais diferentes temos que de vez em quando buscar algumas dificuldades e sair da “rota conhecida”.
✔ Depois de uma grande subida, sempre tem uma descida para ser desfrutada – Subidas são muito difíceis de transpor pedalando, todos sabem, temos que fazer força além do normal e normalmente nos fazem suar mais e são as subidas que assustam muitas pessoas de se iniciarem no ciclismo.
No empreendedorismo funciona da mesma forma, são os desafios que assustam as pessoas, os “normais” costumam chamar quem empreende de “louco”, pois se aventuram em terrenos de grandes desafios e incertezas, que irão demandar muita energia e teremos que suar mais do que o normal, porém, quando empreendemos sabemos que depois dos grandes desafios e dilemas enfrentados é que vem momentos de mais calmaria e grandes conquistas, nesses momentos é que desfrutamos de prazer, é a nossa descida após a grande subida.
✔ Algumas vezes tomamos caminhos errados – Em grandes pedaladas e na vida da empresa sempre que pretendemos fazer algo diferente, temos que tomar caminhos não percorridos por nós anteriormente, podemos estudar o mapa, olhar as alternativas, mas somente quando nos jogamos na rua é que saberemos se as rotas tomadas estão certas, em várias situações vão estar erradas, são ruas sem saída, tem cachorro bravo, mais buracos do que esperávamos ou não nos levam aonde queríamos, mas temos que ter a sabedoria de reavaliar toda a situação e decidir os novos caminhos, muitas vezes sem grandes informações, ir “pelo instinto”, seguir em frente ou até quem sabe voltar tudo para onde saímos e começar de novo em outra direção.
✔ Temos que levar alguns suprimentos e nos reabastecer – Quando saímos para pedalar, sempre nos preparamos para o percurso, fazemos a análise de distância, duração, condições do roteiro, etc.
Com essas informações levamos o que podemos precisar naquele dia, podem ser ferramentas, alimento, roupa, barraca de dormir ou somente água. Na vida empreendedora é assim também, temos que ver o caminho a ser percorrido em cada situação e nos preparar para ele da melhor forma possível, inclusive as paradas estratégicas devem ser pensadas, o famoso “afinado o machado” faz parte da vida do empreendedor com treinamentos, cursos, qualificação, contratação de equipe adequada, etc, no pedal a mesma coisa, algumas vezes estamos muito cansados e vamos parar para tomar água, fazer um alongamento e descansar, para em seguida recuperar o fôlego e tentar voltar o melhor possível.
✔ Nem sempre a descida é a melhor coisa – No roteiro de bike é muito comum acharmos que as descidas são os melhores caminhos, mas nem sempre é assim, por exemplo, se for o caminho errado, teremos que subir tudo de novo, pode ser que essa descida seja mais tumultuada ou tenha mais trânsito que um outro caminho mais plano.
Na nossa empresa isso fica ainda mais claro, as descidas podem significar “ladeira abaixo” ou resultados que sempre pioram ou situação ficando cada vez mais difícil, nem sempre as descidas são para desfrutar, o que temos que fazer é sempre analisar as opções, estarmos preparados e contar com os nossos conhecimentos para superar aquele momento, e se essa descida for para o fundo do poço, parar, reavaliar, tomar aquela água que ainda resta e se preparar para subir tudo de novo, afinal empreender é como andar de bicicleta, não pode para se não cai.
Minha decisão já a quase dois anos de deixar o caminho CLT, dentro de redes hoteleiras e seguir empreendendo ainda está cheio de subidas e trechos sinuosos, mas de vez em quando as pedaladas são mais tranquilas e gosto muito dos desafios que se apresentam, tenho uma consultoria em Hotelaria, a Mandaji Consultoria Hoteleira (www.mandajiconsultoria.com.br), depois abri uma startup de intermediação de mão de obra para Hotéis, a b2bhotel-Facilidades para a Hotelaria (www.b2bhotel.com.br) e agora junto com mais de uma dezena de “loucos” nos unimos em um ecossistema de fornecedores qualificados para a hotelaria e criamos a Reconex (www.reconex.com.br), com isso, pedalada a pedalada, sigo o meu caminho e percorro feliz a cada dia o desafio que se apresenta.
Publicado anteriormente no Portal do Sebrae